A Dança Grega

A Dança para os Gregos: o sagrado primordial

A dança está presente no cotidiano dos gregos, desde os tempos mais remotos. Na Antiguidade, mantinha estreita relação com os cultos aos deuses, sendo executada em círculo, em homenagem aos grandes detentores do poder sobre os homens e  tendo, ao centro, as oferendas a estes dedicadas.
Com o passar do tempo, o caráter religioso pagão diluiu-se, dando espaço à crença cristã. Ainda assim, existem muitas coreografias relacionadas ao grandioso passado mitológico dos gregos.
Em linhas gerais, pode-se dizer que a Grécia, ainda que pequena geograficamente, apresenta uma variedade muito grande, tanto no que diz respeito ao número de coreografias - que, segundo estudiosos, ultrapasse a casa das 400, quanto na variedade de ritmos, instrumentos musicais e melodias.

As Danças Folclóricas e as Danças Populares

Didaticamente, costuma-se dividir a dança grega em duas grandes categorias, bem distintas: a das danças típicas ou folclóricas παραδοσιακά (paradosiaká) e a das danças populares λαϊκά (laiká).
Dentro da primeira categoria, segundo a célebre pesquisadora Dora Stratou, as danças podem ser divididas em dois grupos: a das danças "saltadas" πηδηχτοί χοροί (pidihti hori) e a das danças de deslize (ou de arrasto) συρτοί χοροί (syrti hori). No primeiro grupo, enquadram-se as de ritmo mais marcado e bastante entusiásticas, que nos remontam às danças bélicas da Antiguidade, tais quais o Pendozalis de Creta ou o Pyrrihios do Pontus. No segundo, enquadram-se todas as variações das sequência básica de 12 ou 6 passos, obedecendo ao lugar de origem e suas variações. Geralmente, os Syrtós sempre são acompanhados de um segundo nome, que explica sua origem ou sua execução. Por exemplo: Syrtós Kalamatianós (da região de Kalamata, no Peloponeso), Syrtó Koftó ("cortado", devido à música ser interrompida após a primeira sequência de 22 passos), entre outros.
Syrtaki
No grupo das danças populares, temos principalmente as coreografias oriundas da Ásia Menor e que se tornaram populares entre os gregos após a troca de populações, no início do século XX. Entre estas, destaca-se o famoso Syrtaki, imortalizado no filme Zorba, o Grego, protagonizado por Anthony Queen.

As variações geográficas: ritmos e melodias

Geograficamente, as danças diferem de região para região, bem como os instrumentos musicais que as acompanham. Ao contrário do que muitos imaginam, pela própria imagem construída acerca dos gregos com o filme Zorba, o grego, a musicalidade da Grécia vai além do bouzouki que, embora seja um dos ícones da música grega, não pertence à classe dos instrumentos folclóricos, mas sim dos populares, como o baglamás.
Cada região, apresenta seus ritmos e instrumentos particulares, bem como coreografias que expressam seu passado histórico e o modus vivendi dos ali nascidos.

TRÁCIA E MACEDÔNIA

No norte da Grécia, temos duas das mais exponenciais culturas do cenário folclórico grego: a Macedônia, uma das maiores regiões do país, tanto em extensão quanto em número de cidades e a Trácia. Em ambas, a gaita-de-foles goza de grande prestígio e divulgação, tornando-se uma marca registrada. Na primeira, além da gaita, encontramos também os instrumentos de sopro, tais quais as cornetas, que dão ao folclore local uma particularidade não vista em outras regiões da Grécia. Já na segunda, ao lado da gaita, temos os latões (τενεκέδες), oriundos da Rumélia Oriental, bem como o toumbeleki (τουμπελέκι), tambor semelhante ao derbak, além do alaúde, entre outros.
As danças, contudo, são bem distintas nas regiões em questão. Na Macedônia, costumam ser mais cadenciadas e de formação prioritariamente mista (homens e mulheres), com danças de gênero individual, como por exemplo a Gaida, dançada por homens e a Bella Lymbiá, dançada somente por mulheres.
Zonarádikos
Já na Trácia, as danças traduzem bem o passado bélico dos habitantes, que , desde a Antiguidade, eram um dos únicos povos a cultuar abertamente o deus Ares, devido à sua paixão pelas guerras. Dentre as principais coreografias destacam-se o Zonarádikos (executado em toda a Trácia), a Baiduska (também executada na Bulgária com o nome de Pajdusko), entre muitas outras. Uma particularidade do folclore local é que os homens sempre encabeçam a roda, seguidos pelas mulheres. Dificilmente, as coreografias são executadas de modo misto. Outro detalhe é o constante agito dos braços, que devem estar sincronizados aos passos e à música.

EPIRO, TESSÁLIA, GRÉCIA CENTRAL E PELOPONESO

Na parte central e sul, percebemos uma variedade ainda maior na musicalidade e na dança. O clarinete é um dos instrumentos mais característicos, principalmente no Epiro e na Tessália. Ao lado destes, temos o santouri, espécie de xilofone, bastante comum no sul da Grécia. As danças de toda a extensão são bem cadenciadas. A formação é prioritariamente mista e grande parte das coreografias é conduzida pelos homens de mais idade, ou até mesmo por padres, em danças religiosas.
Entre as principais coreografias, temos o Berati, o Koftó (ambas executadas no Epiro e na Tessália), a Karaguna (a mais difundida dança da Tessália), o Tsámikos (dança bélica executada por homens, que relembra o preparo do soldados para as batalhas contra os Turcos, difundida em toda a extensão), entre muitas outras.
Tsámikos
É do sul da Grécia um dos trajes folclóricos mais conhecidos: a foustanella, espécie de saia que compõe o traje masculino denominado tsoliás. Também é da mesma região uma das coreografias mais difundidas em toda a Grécia: o Syrtós Kalamatianós, de 12 passos, executado em várias partes do país, com variações locais.

A GRÉCIA INSULAR

No tocante às ilhas, que se destacam em todo mundo por sua beleza e história, podemos dividi-las em dois grandes grupos: as Jônicas e as do Egeu. Lembramos que essa divisão é puramente geográfica e não abarca a imensa variedade observada em cada uma delas, bem como as sub-divisões existentes: Cíclades, Espórades, entre outras.
Grosso modo, as ilhas do mar Jônio apresentam um caráter bastante ocidental, com forte influência do país vizinho - a Itália, principalmente em Kérkyra. Nestas ilhas, os instrumentos seguem o padrão da orquestra insular, com violinos, a tsambouna (espécie de tambor pequeno), bem como o acordeon (no caso de Kérkyra), entre outros.
Algumas vezes, as coreografias relembram os bailes ocidentais e as músicas as serenatas. As danças circulares são maioria, ainda que sejam observadas muitas execuções pareadas, no estilo vis-a-vis, como o Balos Ithaki, entre outras.

Nas ilhas do Egeu, o violino tem o maior prestígio, sendo considerado como o legítimo representante da música do arquipélago. As danças são de formação mista, na maioria das vezes, e os homens a executam com as pernas ligeiramente arqueadas, uma marca bastante particular da dança do Egeu.
Entre as principais coreografias está o Balo, dançada em casais. Quando circular, recebe o nome de Syrtós Balos, mas é menos comum de ser executada. Além das danças difundidas em todo o arquipélago, existem também as estritamente tópicas, como o Ikariótikos, dançada na ilha de Ikaria, a Vlaha, dançada em Naxos, o Roditikos, em Rodes, entre outras.
A ilha de Creta, a maior de toda a Grécia, é completamente distinta das demais no quesito folclórico. Seu maior expoente é a lira cretense, que acompanha todas as danças. Estas são marcadas pelo seu ritmo bastante acelerado, dançado a passos lépidos e rápidos, com as pontas dos pés, conferindo aos dançarinos um aspecto quase que flutuante. Dentre as principais coreografias destacam-se o Pendozalis e o Syrtós Haniótikos, além de muitas outras.

Thiago Zilio Passerini